segunda-feira, 11 de junho de 2012

 TRABALHAR PARA DEUS

É sempre frequente, nos dias de hoje, a preocupação entre os jovens de obter sucesso em alguma carreira profissional. As constantes e mais abusivas exigências do mercado forçam o jovem hodierno a se confrontar com pressões das mais variadas, às vezes dificultando o processo natural de aprendizagem no período escolar e o acirramento das divergências oriundas da busca pela carreira mais adequada. Tal fenômeno é mais característico no meio pré-vestibular.

Estudar, obter uma carreira brilhante, e, consequentemente, conseguir êxito financei-ro, atrelado à melhoria do estado de vida, tal é a lógica que permeia esse processo de iniciação profissional e tecla na qual insistem em bater os cursinhos e os colégios dian-te dos vestibulares. Os adolescentes pagam um alto preço no empenho quase desu-mano nas horas de estudo, no sacrifício do lazer em detrimento do êxito vindouro, da concorrência e da superficialidade entre os colegas dentro da sala de aula. Na grande maioria das vezes, esse processo selvagem leva a grandes frustrações na vida desses jovens, que se vêem de repente compelidos a girar numa engrenagem violenta, onde entram em xeque as alegrias e as decepções na escolha de suas vidas, o modo por meio do qual eles poderão obter satisfação trabalhando no que lhes convém e servindo a sociedade. É uma engrenagem doentia que esmaga os sonhos do jovem em detri-mento da propaganda do dinheiro e do status, que trazem quase sempre uma falsa felicidade e um profundo sentimento de vazio. Não lhes é permitido colocar em primei-ro lugar o fazer o bem enquanto se é útil, no desenvolvimento das potencialidades e dos dons que Deus derrama sobre nós.

O jovem, na busca do sucesso profissional, deve colocar o dom divino do trabalho em ritmo compassado à oração, como alavancas mútuas: o labor que centra o homem útil na esperança em Deus e a oração que volve o homem a encontrar alento na prática de suas obrigações. Também ao jovem deve ser dada a oportunidade de colocar a graça divina do discernimento como requisito essencial na escolha de sua carreira profissio-nal, como forma de aproveitamento de suas aptidões e glorificação divina no exercício deles.

Dizia São Francisco de Sales: “Sempre que puderes durante o dia, transporta o teu espírito à presença de Deus. Atende ao que Deus realiza e ao que tu fazes”. Trata-se, sem dúvida, de uma belíssima exortação, convidando a todos, e também aos jovens, a procurar dentro de si a semente da vocação, para amar a para servir. Somos concria-dores com Deus, em nossas lutas diárias enfrentamos com Deus as contendas contra o desânimo e a falta de solidariedade, ao mesmo que plasmamos novas realidades e obras, dando a cada uma delas a semente de divindade que também nos é particular. Pio XI declarava “ser justamente o santo orgulho, em certo sentido, a sagrada tarefa profissional dos homens católicos: serem sempre os mais salientes, os melhores, em todas as manifestações da vida humana”. Ora, quando em contato com Deus empe-nhamo-nos na construção de nossas ofertas, agradáveis a Ele porque intimamente ligadas à Sua Graça, elas se revestem de Sua perfeição, e nosso trabalho se santifica e se aprimora porque igualmente atinge plenitude. Os jovens, na aspiração ao trabalho valoroso, podem e devem colocar Deus como suporte a operá-lo de modo gratificante e digno de louvores, porque o amor a tudo cimenta de forma plena, de modo que tudo o que é criado por sua mão reflete, tal como num espelho, a obra máxima de Deus que é a sua vida e a natureza à sua volta.

O mesmo Papa exorta, num outro momento, à juventude: “Existe um orgulho santo, uma ambição que é um dever: distinguir-se no bem! Deveis possuir esta ambição... dimanando da aspiração de que o bem praticado por vós seja conhecido, para atingir aquele fim sublime a que Jesus se referiu quando afirmou que as boas obras devem ser vistas para que as conhecendo, todos glorifiquem ao pai que está nos céus”. Tal observação aponta ao caráter oracional e contemplativo do trabalho, que força aqueles que o operam a se orientarem pelo vislumbre do que é Eterno. Também a labuta diária é oportunidade de aplicação das verdades evangélicas e do desenvolvimento espiritual decorrente delas, de forma que nada do que é produzido se perde na banalidade mas reforça o espírito que promove a devoção a Deus inclusive na criação da realidade no-va. O Bem, querido pelo homem na oração e na intimidade com Deus, também pode ser conseguido no seu esforço e no resultado do mesmo, no ambiente de trabalho, com vistas a evangelizar os que com ele lidam a almejar a Graça de Deus e asseme-lhar-se com ele, também nesse meio aparentemente hostil.

O Catecismo, em sua análise a respeito do trabalho e sua implicações, informa que ele “procede imediatamente das pessoas criadas, à imagem de Deus e chamadas a pro-longar, ajudando-se mutuamente, a obra da criação, dominando a terra. O trabalho é pois um dever (...)” (CIC 2427). Faz parte do compromisso do homem conseguir seu sustento a partir do substrato dado por Deus: as riquezas naturais, o animus coopera-dor e a busca do autodesenvolvimento. Como ente em busca de promoção espiritual e dotado de vitalidade, o jovem é compelido a realizar as suas obras revestindo-as desse chamado, onde entram também a vocação dada por Deus visando a envolvê-lo, com-plementando a vontade Dele na sua vida num todo agradável. Afirma a Igreja, catego-ricamente: “O trabalho é para o homem, e não o homem para o trabalho” (CIC 2428).

Os santos, em suas vidas, priorizaram o trabalho como via de salvação, operando as maravilhas de Deus por meio de suas mãos humanas. Seja trabalhando em prol dos pobres, como é o caso de São Francisco e de Madre Teresa de Calcutá; seja pelos mo-ribundos, como São Camilo de Léllis; ou, ainda, pela fecundidade na evangelização, como os Apóstolos, que, guiados pelo Espírito, levaram e deram o sangue para espa-lhar a Boa Nova. Nossa Senhora, verdadeira discípula de Jesus, mostra-se também preocupada com o trabalho que advém de suas responsabilidades, e vai, “com pressa”, ajudar Isabel em sua gravidez, mesmo estando ela grávida (cf. Lc 1, 39-56). É a virtu-osidade impressa no amor ao serviço, ao alcance da glória de Deus na escuta de seu chamado e no suporte a seus filhos. O jovem, instruído pela Eucaristia a amar o pró-ximo e a evangelizar nos frios e hostis ambientes colegiais e acadêmicos, deve ser fa-rol nessa luta diária e exemplo de santidade na aspiração ao serviço a Deus.

Não é mais importante o lucro conseguido com o trabalho ou a carreira que garanta o status futuro. O que é agradável a Deus é trabalhar tendo em vista a intimidade com Ele e a audição de Seu chamado, que é sempre agradável às nossas vidas e ao nosso desenvolvimento humano e espiritual. Chamado à oração, ao serviço e à partilha do Pão, prefigurando o testemunho do pleno cumprimento do testamento deixado por Cristo na Eucaristia.


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por
Comunidade Católica Shalom

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