quarta-feira, 17 de agosto de 2011

FORMAÇÃO

O espetáculo humano
Maria Auristela B. Alves – Comunidade Shalom

    Nenhum espetáculo fascina tanto o homem como o humano, já que ali se vê muitas vezes retratado, por isso, a televisão – especialmente certos programas – exerce tão alto fascínio e agrega tantos à sua frente. O perigo é que nem sempre os responsáveis pelas programações têm compromisso com a verdade, com a beleza e com a bondade; e vêem o homem não como imagem e semelhança de Deus, mas sim como um consumidor, e a sociedade como mercado. E o telespectador, que na maioria das vezes não teve a oportunidade de formar seu senso crítico, absorve o que vê e modela sua vida de acordo com os ditames televisivos.
    Isso é notório! Quando uma novela vai ao ar, logo na rua o vocabulário, as roupas e atitudes são pautadas no que “mandam” os protagonistas. Atualmente, por exemplo, na cidade em que moro, Fortaleza, aonde quer que eu vá, encontro o “Marrocos”, seus costumes e valores. Com você, talvez aconteça a mesma coisa.

    As mulheres, que passaram anos lutando para ter sua dignidade reconhecida e para estabelecer relacionamentos com os homens “de igual para igual” – ou seja, com abertura, diálogo, respeito e cada um exercendo seu papel e enriquecendo o outro –, agora são reensinadas pela novela a não reclamar, não discutir, não ser ela mesma e não demonstrar seus sentimentos, pensamentos e sua verdade diante do outro para não correr o risco de “ser devolvida”.

    Jorge da Cunha Lima, diretor presidente da Fundação Padre Anchieta, em entrevista à revista Cidade Nova, afirma que “a carência ética da sociedade exige de nós uma visão mais ampla do homem... Isso implica prepará-lo para a vida, dar-lhe uma formação para o gosto, para a estética, para o respeito pelo seu semelhante, para a civilidade e para a capacidade de conviver”. Infelizmente, porém, não é esse o pensamento da grande maioria dos presidentes das emissoras de TV. Assim, os programas são pautados no sensacionalismo e na exploração do erotismo e da violência.

    Hoje, os grandes “campeões de audiência” são aqueles em que o telespectador fica “de olho” na vida “privada” de pessoas comuns ou de artistas. É de impressionar o fascínio que eles exercem sobre o público; por onde quer que andemos, os comentários sempre se encontram no que está se passando naquelas casas, construídas especialmente, com câmeras em todos os lugares, a fim de que, realmente, as pessoas tenham suas vidas “escancaradas” para o Brasil inteiro.

    Além da divulgação da futilidade, pois esses programas não edificam em nada a vida do telespectador – se houvesse discursos, debates ou diálogos sobre assuntos importantes e educativos, pelo menos, aprenderíamos alguma coisa – só se divulgam os contravalores, fazendo-se questão de mostrar a impossibilidade de pessoas diferentes conviverem harmoniosamente debaixo de um mesmo teto; desavenças, rixas, complôs que uns fazem contra os outros são, de forma apelativa, exibidas. Na realidade, nós sabemos que as diferenças não são empecilhos para a boa convivência, basta lançar um olhar sobre as comunidades: pessoas de culturas, costumes e visões de mundo tão diversas moram juntas e em paz, renunciando em favor do outro, abrindo mão de brigar para que haja unidade entre todos, e são muito mais felizes!

    Por falar nisso, que espetáculo seria se houvesse espaço para Cristo na TV, pois se o homem anseia por ver-se na “telinha”, ver-se-ia de fato se ali estivesse Jesus, modelo verdadeiro da humanidade. É este o apelo feito recentemente pelo Papa aos participantes de assembléia plenária do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais: “... vos exorto, em toda a vossa programação, a dar espaço para Cristo. No jornal, no rádio, na televisão, no cinema e na internet, procurai abrir as portas a Ele, que misericordiosamente é para nós a porta da salvação. Assim, os meios de comunicação social serão autêntica comunicação, não feita de ilusões, mas de verdade e de alegria”.

    E digo não apenas falando de Cristo, mas dando testemunho do cristianismo. Que bom seria se as novelas mostrassem modelos de famílias que dão certo – e existem muitas, incontáveis, nós sabemos! –, que superam as dificuldades com fé e na unidade, de jovens que são alegres sem precisar das drogas ou do álcool ou do vandalismo... se os jornais noticiassem coisas boas. Você já notou que ultimamente os jornais só falam de corrupção e violência? Acabamos acreditando que na vida só há injustiça, desigualdades sociais etc. Onde estão as boas notícias, que são capazes de contagiar o homem com a alegria e o entusiasmo em vez do medo e da revolta? Por que ninguém noticia os progressos de programas como o Volta Israel ou a Fazenda Esperança?

    Quanta coisa boa está sendo feita na educação, na política, entre os profissionais, entre os meninos e meninas em situação de risco pessoal e social e em tantas outras realidades, por comunidades e movimentos. Por que essas boas ações não são notícias de jornal?

    Sonho com o dia em que teremos um jornalismo responsável, comprometido com a vida e não com a morte; com o dia em que os programas de entretenimento serão promotores de uma ética autenticamente humana, divulgadora de valores eternos, como respeito, solidariedade, justiça e paz entre as pessoas, sociedades e povos.

    Podemos começar fazendo a nossa parte, desligando a televisão ou mudando de canal, fazendo escolhas conscientes e telefonando, reclamando de programas ruins e parabenizando pelos bons.

Nenhum comentário:

Postar um comentário